"Do meu lugar não há registos
nem mapas nem retratos.
Para falar dele terei de mencionarum raio de sol manso
a nascer na transversal
das tábuas do soalho.
O meu lugar é a pura geografia.
Sem o sítio.
Mais o sítio.
Continente doce onde se inscreve
o pão de cada dia
e a mecânica dos ossos a ranger.
No meu lugar
a primavera nasce
suave e rumorosa
suspensa sobre pétalas de luz.
Cada pequeno animal
sai da pedra que o protege
e corre pelo seu mundo que é também o meu mundo
e leva os meus olhos
e regressa com perguntas.
O meu lugar existe
porque existe uma andorinha a dançar
em seu redor
e tudo se torna verde e depois maduro
e há um sumo de laranja
que escorre dos lábios por volta do meio-dia.
No meu lugar há círculos abertos
e todas as poções intentam misturar-se
para que a voz do coração se torne
num ofício de ventos e de cravos.
O meu lugar
é tão belo.
É tão belo
e tão breve
o meu lugar." (FANHA J.)
Deixo ainda duas frases, as quais presentemente devem permanecer:
“Mas não é agindo apenas sobre o corpo dos indivíduos,
degradando-lhes o tamanho, mirrando-lhes as carnes, roendo-lhes
as vísceras e abrindo-lhes chagas e buracos na pele, que a fome
aniquila o homem. É também atuando sobre seu espírito, sobre sua
estrutura mental, sobre sua conduta social." (Josué de Castro)